A criança na educação: de ser passivo à sujeito de direitos
Introdução
A forma como a criança é compreendida na sociedade e na educação passou por grandes transformações ao longo dos séculos. Antes vista como um ser passivo e dependente, hoje ela é reconhecida como protagonista de seu próprio processo de aprendizagem — um sujeito ativo, social e histórico. Essa mudança de perspectiva é essencial para entender o papel da escola e da família na promoção do desenvolvimento saudável da infância.
Durante muito tempo, a infância foi negligenciada e pouco valorizada. Até o século XVI, a criança era tratada como um “miniadulto”, sem direitos, sem voz e sem espaço para expressar suas emoções ou ideias. Com o passar do tempo e com o avanço das teorias pedagógicas, surgiram novas formas de compreender o desenvolvimento infantil, valorizando a afetividade, o brincar e o aprendizado como experiências integradas.
Atualmente, pensar a educação infantil exige considerar as dimensões físicas, cognitivas, emocionais e sociais da criança. O ambiente familiar e escolar deve proporcionar oportunidades de descobertas, interação e expressão — fatores fundamentais para o desenvolvimento integral.
Da obediência à autonomia: como a criança era vista no passado
Historicamente, o modelo de educação tradicional valorizava a disciplina e a obediência. A criança era moldada para seguir regras, repetir conteúdos e se adequar a padrões. Nesse contexto, o afeto e o brincar eram vistos como distrações, e não como partes do aprendizado.
Estudos mostram que, até o final do século XIX, a escola tinha o papel de formar cidadãos obedientes, focando na transmissão de valores e comportamentos. Como afirmam Faria, Palmeira e Angotti (2021), “as concepções pedagógicas priorizavam a criança, a sua liberdade de pensar, agir, estabelecer e responsabilizar-se por suas escolhas em conhecer a si mesmo e o mundo”, apontando para uma mudança que começava a valorizar a singularidade infantil.
A criança na contemporaneidade: sujeito de direitos e protagonista do aprendizado
Com o avanço das teorias de Jean Piaget, Lev Vygotsky, Maria Montessori, Freinet e outros, consolidou-se uma nova visão: a de que a criança é um ser ativo e social. Ela aprende por meio da interação, da curiosidade e do brincar. Esse olhar é reforçado no artigo “Educação e desenvolvimento da criança na primeira infância: o campo das responsabilidades”, de Faria, Palmeira e Angotti (2021), ao defender práticas pedagógicas que “compreendam a criança em sua singularidade e permitam a ela apresentar seu olhar e leitura de mundo”.
Deon e Pereira (2021), em “As concepções de infância e o papel da família e da escola no processo de ensino-aprendizagem”, também destacam que “a criança é um sujeito sócio-histórico dotado de peculiaridades e o seu contato com o meio faz com que se desenvolva em termos de aprendizagem”. Essa perspectiva amplia o papel da escola e da família, reconhecendo que ambas compartilham a responsabilidade pela formação integral da criança.
O papel da escola e da família na formação integral
A família é a primeira educadora da criança, responsável por transmitir valores, afeto e segurança. Já a escola tem o papel de complementar esse processo, oferecendo experiências diversificadas, promovendo a socialização e estimulando a curiosidade. Quando essas duas instituições atuam em conjunto, os resultados são muito mais significativos.
Como afirmam Deon e Pereira (2021), “a ação conjunta entre a família e a escola contribuirá para o desenvolvimento e a aprendizagem da criança”. Isso mostra que a aprendizagem não ocorre de forma isolada, mas é fruto de interações, relações e práticas vivenciadas no cotidiano.
Pesquisas recentes destacam a importância do protagonismo infantil: a criança participa das decisões, explora o ambiente, constrói conhecimento e aprende pela interação com o outro e com o mundo.
A ludicidade e o brincar são compreendidos como elementos centrais do aprendizado, estimulando a curiosidade, a imaginação e a autonomia.
Além disso, reconhece-se a existência de múltiplas infâncias, influenciadas por fatores culturais, sociais e econômicos. A escola deve, portanto, valorizar a diversidade, respeitando diferentes ritmos, contextos e formas de aprender
Caminhos para o desenvolvimento saudável da criança
Garantir o desenvolvimento saudável da criança significa cuidar de todas as dimensões de sua existência — física, emocional, cognitiva e social. Para isso, algumas práticas são fundamentais:
Ambiente acolhedor e afetivo: relações baseadas no respeito e na escuta ativa fortalecem o vínculo emocional.
Brincar e explorar: o brincar é a linguagem natural da criança e promove aprendizagens significativas.
Protagonismo infantil: permitir que a criança participe de decisões e expresse suas opiniões reforça a autonomia.
Interação social: o convívio com outras crianças e adultos favorece o desenvolvimento da empatia e da comunicação.
Cuidados essenciais: alimentação, saúde, sono e segurança são pilares do bem-estar e da aprendizagem.
A análise de Deon e Pereira (2021) evidencia que a criança não deve ser vista como um ser passivo, mas como um sujeito em construção, influenciado e, ao mesmo tempo, influenciador do meio em que vive. O desenvolvimento saudável da infância depende de uma relação equilibrada entre a ação educativa da família e o trabalho pedagógico da escola.
Conclusão
Compreender a criança como sujeito de direitos implica também respeitar suas emoções, ritmos e formas de expressão. A escola e a família, juntas, precisam promover um ambiente em que a criança se sinta acolhida, ouvida e estimulada a aprender de forma prazerosa e significativa.
Mais do que ensinar conteúdos, educar é favorecer o desenvolvimento humano. Uma educação que valoriza a infância, o brincar, a curiosidade e o afeto contribui para a formação de indivíduos mais criativos, críticos e solidários — preparados para transformar o mundo ao seu redor.
A forma como vemos a criança reflete a evolução da educação e da sociedade. Se antes ela era considerada um ser passivo, hoje é reconhecida como protagonista do próprio aprendizado e sujeito de direitos.
Garantir o desenvolvimento saudável da infância significa unir afeto, conhecimento e condições dignas de vida, permitindo que a criança cresça confiante, criativa e capaz de participar ativamente do mundo que a cerca.
Essa abordagem reforça o papel do professor como mediador e da escola como espaço de construção conjunta do conhecimento.
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Veja também: TEORIA E PRÁTICA - DIA NACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO
Referências:
FARIA, Alessandra de Carvalho; PALMEIRA, Cíceran Martins; ANGOTTI, Maristela. Educação e desenvolvimento da criança na primeira infância: o campo das responsabilidades. SciELO, 2021.
DEON, Vanessa Aparecida; PEREIRA, Graciele Perciliana de Carvalho. As concepções de infância e o papel da família e da escola no processo de ensino-aprendizagem. SciELO, 2021.












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